20 octubre 2010

MAR VERMELHO




Durante aqueles dias invadi um mundo que não era o meu. Apesar da estranheza, este novo meio tornava-se mais próximo e a sua leveza conquistava até o espírito mais atormentado, e eu queria lá estar o tempo todo.
- Não posso respirar, mas consigo voar, percebes?...(também conseguia sonhar, mas isso não se percebe, tem que se sentir).

13 enero 2010

365 Dias

Outra vez? mais 365 dias para preencher? e tu, o que vais fazer este ano? o que?!! não fizeste planos para o ano novo??...e por aí adiante...estas são as expressões que atormentam o início do ano, tão importante como ter uma passagem de ano fabulosa, é necessário empanturrar-te com as doze uvas, e claro, anelar um desejo ou desejos, para o ano que começa,...

- eu, disse ela, quero que me deixem como estou;
- mas, então? onde está o teu desejo? ou desejos?;
- oh filho! chega uma altura em que o melhor desejo é ficar igual a ontem, a gente até tem receio de pedir...
- ta bem, então pede algo para mim;
- e peço, peço muita saúde para ti;
- oh, avó! isso não é um desejo, eu já estou saudável, pede uma coisa que eu não tenha;
- (ela sorri, também já teve seis anos, também já foi saudável, também já acreditou nos desejos para o Novo Ano)·

Já agora, e tu? o que desejas para o Ano Novo?
- hmm, gostava de ter mais tempo para falar contigo;
- só falar? (sorriso malandro);
- sim, mas sentir que tu me ouves... (silêncio)

E ele? imaginas o que terá desejado?
- penso que gostava de acabar o curso;
- sim, claro, mas isso ele consegue só tem que se esforçar..
- não sei se será só a questão de estudar mais..está estranho, anda mais calado, já reparaste que apenas sai com os amigos?
- oh, já estás tu a procurar problemas onde eles não existem! (e sai da sala)
- (…se me ouvisses mais…, pensa ela).

Na mesma sala,...
-...quem me dera que tudo fosse tão fácil como um desejo!!, pensa ele, se eu conseguisse deixar o pó só por assim o desejar...nem sei como vou sair disto (fica calado e pensativo, sentado a frente da televisão).

Ao telefone:
- Se me deixassem, ia para o estrangeiro melhorar o meu inglês, um ano inteiro a viver a minha maneira;
- tu sozinha? não tens medo?
- Não, claro que não, estou farta das pancas dos meus pais! nem posso namorar à vontade...,
- Bem, mas tu exageraste um pouco, ou achas que chegar as seis da manhã é o normal?
- Nem sei porque falo contigo, não percebes nada! Adeus! (desliga)


Na outra sala,
- ...oxalá os exames dela estejam bem, não vai aguentar outro ciclo de quimioterapia..., nem eu...(pensa ele)

21 diciembre 2009

INVERNO

Hoje está um dia daqueles cinzentos, chuvosos e frios em que tudo está desconfortável e molhado, as roupas, as mãos que cumprimentamos, o chão da rua, o chão da entrada de casa, os cabelos, os carros, o ar que respiramos, o vento que mexe o guarda-chuva, os vidros das janelas, até as almas estão desconfortáveis e molhadas, obrigadas a resguardar-se, a ficar em casa, reservadas, no silêncio do diálogo interno.

Hoje o tempo é aborrecidamente lento e pesaroso…e eles…também já não estão aqui…
Espelhámo-nos na vulnerabilidade dos outros, na finitude, na partida, no desconhecido do destino…, curiosamente, o inesperado gesto amigo e, estamos vivos!

14 septiembre 2009


Maputo (Na hora da despedida)
POEMA MESTIÇO
escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer
Mia Couto

09 septiembre 2009

Mozambique, ilha da Inhaca

20 agosto 2009

Outra vez perguntaram por ti

Outra vez perguntaram por ti, onde andarás? Que estranha loucura te leva tão longe? Que estranho mundo te invade e te domina?
Sofrer? Nem querem pensar que possas estar a sofrer. Oxalá esse mundo teu seja bom, oxalá as noites sejam quentes, oxalá não passes fome e alguém te cuide e reconheça o medo debaixo da pele de Quixote.
Sabes? As vezes, nos sonhos, tu regressas e sorris e olhas para eles com carinho, mas nunca te arrependes, porque continuas nesse mundo teu; e eles não se importam, porque já nada é mais importante do que terem-te a sua frente.
E escrevem para se aproximarem de ti, num acto desesperado para tentar alguma ligação mágica que te devolva.

04 julio 2009

MAIS UMA CARTA QUE TE ESCREVO

Hoje reparei na quantidade de cartas que te tenho escrito e que tu nunca vais ler. Desta maneira tenho conversado contigo, uma estranha forma esta de conversar quando ninguém nos ouve, mas enquanto escrevo tu ficas perto de mim, à distância que separa a caneta do papel. A medida que transcorre a escrita, as palavras vão-me aproximando ou afastando de ti e vou-me deixando levar por esta ondulação que eu próprio dirijo.
Hoje queria ver-te, com tantas ganas que o facto de não te ter visto criou-me a mais terrível das angústias. Nem imaginas o difícil que é viver com a tua ausência. Mas eu posso “sou forte”, é isso que dizem os outros, pois eles não sabem, não chegaram a conhecer a minha fragilidade como tu a conheceste, lembras-te? Incomodava-te tanto! . Tu conheces melhor que ninguém a minha dificuldade para falar dos meus problemas. Sou do tipo de pessoa a quem parece que nunca nada de mau acontece, sempre com a minha boa disposição e o meu sorriso social para os outros. As vezes penso que devia ter feito como dizia o escritor “Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim”.

Para além das cartas que te escrevo mantenho outros pequenos afazeres pelos quais continuo a minha existência ligado a ti. Ouço as músicas que nos uniam e imagino como seria se nesse momento estivesses a ouvi-las comigo, fecho-me no quarto, deito-me e recordo como tu me lias antes de adormecer. Tenho cuidado a minha aparência, sei o tipo de roupa que gostavas que eu vestisse e podes, quem sabe, um dia ver-me de longe ou vir ter comigo, e, se isso acontecer, não quero que encontres nada estranho.
Também tenho tentado fomentar os aspectos da minha personalidade dos quais gostavas tanto. Sou melhor pessoa, mantenho-me alegre e optimista, defendo-me melhor.

Hoje, se estivesses aqui, falar-te-ia de que a vida decidiu mostrar-me o seu rosto menos agradável. Talvez um dos momentos mais angustiantes da minha existência. Eu aguardo, como tu me ensinaste, com a teoria de que o tempo põe tudo no seu lugar, só é preciso deixa-lo decorrer à velocidade que ele decida. Entretanto fico aqui, tentando não desesperar, um dia de cada vez.
Vês? Eu continuo a pensar em ti, embora saiba que não voltarás, como dizia o poeta:

“Ah silenciosa!
É esta a solidão de que tu estás ausente.
Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.
A água anda descalça pelas ruas molhadas.
Daquela árvore se queixam, como doentes, as folhas.
Abelha branca, ausente, ainda zumbes na minha alma.
Tu revives no tempo, fina e silenciosa.
Ah silenciosa!”

28 junio 2009

Há cidades lindas, cidades culturais, cidades cosmopolitas, cidades románticas, cidades acolhedoras,...mas poucas são as cidades que reúnem tudo isso e ainda, têm Van Gogh...
Amsterdam...adorei!!

23 junio 2009

Sempre apareces pela tarde
enquanto a noite cai sobre o mundo.
Perdemos mais um crepúsculo
enquanto o sol se deitava.

Sempre aparecias ao fim da tarde.
Recordo-te com a alma apertada
com essa tristeza que me conheces,
que de mim te afastava.

Ninguém nos viu mais de mãos dadas
enquanto a lua acordava,
porque sempre aparecias pela tarde
quando ainda te esperava.

Nunca mais falamos ao fim da tarde,
foi esse o nosso destino,
demorei-me na minha infelicidade
e nele viajou a vontade.

22 junio 2009

Esta morte parcial foi necessária para apreciar que as rosas não ficam feias com espinhas,
as rosas embelecem as espinhas.
Esta viagem da qual voltamos com a alma erguida, que ressurgiu da morte diária.
Esta morte parcial e necessária.
Assim, ante a porta fechada, como um pedinte,
de quem nos feriu a alma, batemos pedindo esmolas de ternura
Depois desta morte parcial e diária,
apareço com o coração alargado, como um sorriso,
com um bater intenso,
porque a vida é um rosal quando a alma desperta.
Alguém me diz,
não sei porque voltas, com os pés inseguros e cheios de bolhas,
tu, que te tinhas perdido para sempre.
...ainda há almas que não vem a primavera,
ainda há almas com demasiadas espinhas,
almas em viagem.

11 marzo 2009

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
O trono exalta e o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher, o coração.
O cérebro produz a luz; o coração produz amor.
A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher é o anjo.
O génio é imensurável; o anjo é indefinível;
A aspiração do homem é a suprema glória;
a aspiração da mulher é a virtude extrema;
A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência.
A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence e as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece e o martírio purifica.
O homem pensa e a mulher sonha.
Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu.

Victor Hugo

27 febrero 2009


Há coisas...

Há coisas que só se deveriam falar em raros momentos de intimidade.


Há coisas que nos envergonhamos de confessar e…não confessamos.


Há coisas das quais nos arrependemos mas que sabemos que teríamos que as fazer, se nunca as tivéssemos feito.


Há coisas que só são de nós e que deveríamos relembrar enquanto não envelhecemos.


Há coisas que magoaram tanto que é com certo espanto que comunicamos que já deixaram de doer.


Há coisas que não entendemos, não compreendemos e…ainda bem que assim é.


Há coisas que ainda nos revoltam para nos lembrar que insistimos em viver à nossa maneira.


Há coisas que contamos e nunca nos ouvem, porque?


Há coisas que imaginamos tão maravilhosas que preferimos não conhecer .


Há coisas que continuam a ser sonhos, porque é fundamental não deixar de sonhar.


Há coisas demasiado delicadas para se pensar nelas, muito menos ainda para delas se falar.


Há coisas das quais nos esquecemos, por não conseguir vivermos com medo ou por não conseguir suportar a raiva.


Há coisas que todavia desejamos que continuem a surpreender-nos.


Há coisas impensáveis, extraordinárias e incomparáveis.


Há coisas que não mudam, como reivindicar a necessidade de ser nós próprios.

10 febrero 2009

Adaptação da peça que rendeu o prémio Pulitzer ao dramaturgo John Patrick Shanley.
Que atire a primeira pedra aquele que nunca agiu com alguma dúvida...
Que atire a primeira pedra quem nunca foi intolerante...ou xenófobo...ou racista...
Que atire a primeira pedra...

01 febrero 2009

25 diciembre 2008

PARA o 2009...

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exacta para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afectos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

19 diciembre 2008




Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas"

10 diciembre 2008


Será que tu também gostas de escrever?


Às noites pergunto-me o que será que andas a fazer. Passou tão pouco tempo, apenas te conheço, só falamos aquele dia na fila do pagamento da livraria. Ainda não consigo perceber como consegui ter coragem para iniciar a conversa. Deve ser uma dessas situações que acontecem só uma vez na vida. Sempre me conheci como um homem tímido e pouco ousado quando se trata de iniciar uma conversa com o sexo oposto, mas contigo foi diferente. Poderia encontrar algumas desculpas para justificar a minha coragem ou excesso de curiosidade, sim, talvez foi apenas isso, um excesso de curiosidade. Gosto de lembrar como tudo aconteceu… eu estava a folhear alguns livros, adoro estar naquela loja, perco-me durante horas entre livros e músicas, é a minha forma de, como se diz agora, lidar com o stress, ou talvez, de justificar a vontade de não fazer nada após um dia de trabalho ou uma semana estafante. Pois bem, estava lá quando tu chegaste, cheia de luz, de movimento, aliás foi exactamente isso o que me chamou a atenção, tudo se tornava imóvel à tua volta, foi a tua forma de caminhar, de pegar nos livros das estantes, de falar com o empregado da loja, essa tua graciosidade que te faz tão diferente e especial. Não consegui deixar de olhar-te, acompanhei todos os teus movimentos até que, finalmente fizeste aquilo que por ser simples e descontraído, mais me encantou de ti, com um ar sereno e pragmático sentaste-te no chão à frente da estante dos livros de pintura e ficaste absorvida pela leitura. Foi inédito, ninguém, a não ser as crianças, se senta no chão de uma loja. A minha curiosidade ficou ao rubro, tinha que te conhecer, tinha que adivinhar o que se passava pela cabeça de alguém aparentemente tão diferente. E assim foi, pensei como me havia de aproximar e quando já quase estava rendido à minha timidez, um golpe de coragem e lá estava eu a tocar receosamente no teu ombro. A tua reacção foi tão extraordinária como o teu gesto; sorriste e olhaste para mim com uma mistura de delicadeza e suspeita, mas nunca deixaste de sorrir. Parecia aquele sorriso que oferecemos a uma criança que acaba de dizer a sua primeira asneira, ou pelo menos assim me senti eu, um miúdo ante a tua reacção cheia de gentileza e compreensão. Entreguei-te o meu cartão e fiquei à espera.
Ontem recebi o teu primeiro mail. Dizias que tinhas visitado minha página web e davas-me os parabéns, parece que gostaste das fotografias. Eu continuo estúpido, imagina, com dificuldade em encontrar a resposta certa, eu, o homem habituado a controlar-se emocionalmente, a ser pragmático e eficaz,…mas há algo em ti diferente, quase mágico, tenho esse pressentimento. Eu sei, tudo isto parece absurdo, não me atrevo a falar com os meus amigos nestes termos, aliás, nem sonham o que estou a escrever, nem tão sequer, que costumo escrever. Será que tu também gostas de escrever? Quais serão os teus passatempos? Qual será a tua profissão? Será que há alguém na tua vida? O que é que devo fazer? Coloco todas estás questões no próximo mail?
Bem, vou dormir, a almofada costuma ser boa conselheira. Boa noite minha desconhecida.

30 noviembre 2008

Adeus
De nada serviu a minha vontade…
Eu já lá estava, sem ter chegado todavia.
E tu já lá estavas também, já lá estávamos, percebes?
Mas de nada serviu a minha vontade…
Transformas-te o passado em inútil, como um trapo sujo
Desgastámo-nos em esperas inúteis, as palavras ficaram exaustas, cansamos as lágrimas
...
Dentro de ti não encontro nada e nada de ti me procura…
...
Adeus

23 octubre 2008

Não sei onde estás agora

Não sei onde estás agora. Talvez isso não faria com que algo estivesse diferente, ou talvez diminuísse esta angústia que traz o facto de não saber nada de ti. Resisto-me a aceitar que estás em lado nenhum. Gostava de ter-te aqui, ou ali, ou naquele local, ainda que nunca lá fosse ter contigo, mas seria tudo menos volátil, menos vazio.
Sei que quando estavas aqui, ou ali, ou naquele local e eu sabia que lá estavas, apenas te procurei, poucas vezes te telefonei. Tu também poucas vezes me telefonaste, mas o facto de estares ali, onde eu sabia que estavas e que talvez estivesses pensando e mim, ou tinhas pensado no dia anterior, ou que ao cair a noite ias lembrar-te de algum momento só nosso; isso, que nunca antes valorizei tanto como nestes momentos da tua ausência, isso, acredita, era suficiente para sentir que nunca estava só.
Pergunto-me o que será que eu fui na tua vida, qual o significado que a minha existência teve para ti. Será que consegui estar presente nos momentos em que mais me necessitavas? Será que esperavas mais de mim? Será que eu fazia tanta diferença na tua vida como tu fazes na minha?
Sabes? Tu não estiveste presente em muitos momentos difíceis da minha vida, contudo a opção foi sempre minha, porque sempre soube que bastava deixar transparecer um pequeno sinal do meu sofrimento e tu nunca me irias falhar. Hoje arrependo-me, perdi com aquela atitude, perdi a tua experiência da vida, a tua ternura e perdi, sobretudo, a oportunidade de demonstrar-te o quanto eras importante para mim.
Agora surpreendo-me à busca de ti e acordo da loucura de te procurar quando um pedaço de mim avisa ao resto do meu ser que o esforço é inútil. Subitamente o mundo torna-se imenso e eu formiga, frágil e insignificante, o suficiente para a minha existência só fazer sentido se eu voltar a procurar-te.

O Justo Valor das Coisas Presentes

Não julgues as coisas ausentes como presentes; mas entre as coisas presentes pondera as de mais preço e imagina com quanto ardor as buscarias se não as tivesses à mão. Mas ao mesmo tempo toma cuidado, não seja caso que ao deliciares-te assim nas coisas presentes te habitues a sobrestimá-las; procedendo assim, se um dia as viesses a perder, davas em louco rematado.
Marco Aurélio, in 'Pensamentos'

22 octubre 2008


Escorremo-nos como a areia nas mãos

Perdidos, os nossos braços procuram abraços perdidos.
Não diremos mais nada, fecharemos as portas,
e nesse instante seremos dois desconhecidos
que desfolham margaridas sobre um leito vazio.

Serei uma lembrança, como um livro proibido,
que ninguém confessa ter lido.
Passarão os meses e os anos, seremos só estranhos
ou talvez não tenhamos existido.

Eu continuarei sonhando,
enquanto a vida passa.
Talvez deixe de escrever
ou consiga escrever aquele livro.

Tu, talvez deixarás de olhar-te no espelho,
serás um homem amado e feliz
no teu mundo subterrâneo,
lá, longe de mim.

A que beijou as palmas das tuas mãos
e as preencheu de liberdade,
deixa-as vazias e livres para agarrar outros sonhos
e vai embora, como um rio…

Ficarei com um simples deixar de gostar de ti,
como tu me pediste,
e, prometo,
serei feliz

12 agosto 2008




Tinhas o hábito de ser bela

Afastas-te novamente, num comportamento incompreensível, frio e distante, responsabilizando-me pela tua dor. O teu receio de eu ser quem não sou invade o teu pensamento, o teu olhar fica cego, os teus ouvidos surdos, a tua razão impermeável a qualquer argumento lógico, e odeias-me ainda quando eu sei que me amas.
O nosso lar transformou-se no campo de batalha das tuas incertezas. Há meses que tenho receio de chegar a casa, medo de falar, o meu passado te incomoda e o meu presente te confronta. Dizes que me amas, choras e me abraças, eu beijo o teu corpo e desejo beijar a tua alma, mas o meu amor não chega, nunca é suficiente para dar-te paz e segurança e fico submerso na tua exigência ilimitada.
Acredito que a tua paixão é honesta e compreendo-te, não é difícil compreender o ciúme, mas questiono-me se isto vai ter fim. Não consigo aceitar os teus comportamentos agressivos comigo, e ainda que sei que também sofres, que a tua insegurança te torna infeliz, não consigo, não aguento viver neste paraíso infernal onde o amor provoca ódio e afastamento. Ficaste encarcerada numa incerteza eterna.
Hoje vou-me embora exausto, desiludido, desgastado por este amor doentio. Amei-te tanto, se soubesses, mas hoje já só és aquela que me fascinou com o seu olhar e que tinha o hábito de ser bela.

22 julio 2008




Posso escrever os versos mais tristes esta noite

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

18 julio 2008

06 julio 2008

Ele:
Marcamos um novo encontro. É assim desde há três anos, telefono-te e tu estás sempre disponível para mim.
A minha vida está demasiado preenchida com o “que tem que ser”: o escritório, a gravata, a mulher, os filhos... Tu nunca colocas questões, também não estou à espera que o faças, aliás até agradeço esse teu aparente ar desinteressado com o que habitualmente me rodeia. Eu também nada pergunto, só pretendo aquela imagem, aquele espaço em que abres a porta do teu jardim para mim. Esse local imaginário no qual, por momentos, posso esquecer a vida lá fora e sentir-me livre e rei.
É após estes encontros que compreendo como tu preenches a minha rotineira existência.
Já tentei deixar-te. Vivemos numa sociedade carregada de preconceitos relativamente a este tipo de relações. Fizeram-me sentir egoísta, desonesto, pecador e até psicopata. Mas ninguém percebe, por muito que eu tente explicar que és tu a que me permite manter vivo, és a fonte onde vou beber a agua necessária para continuar neste emaranhado de responsabilidades do qual não posso sair.
Também pensei em ti, tinha receio de estar a empatar a tua vida; até descobrir que o nosso segredo afinal também preenchia a tua vida.
Mas ontem, pela primeira vez nestes três anos, chegaste diferente.
Ela:
Enquanto vou ter contigo mantenho a esperança de encontrar em ti alguém em quem refugiar-me, tenho tanto para contar, preciso que me ouças, que me compreendas.
E os nossos encontros são sempre assim. Eu chego cheia de solidão para ser partilhada. As vezes, até parece que queres saber de mim, …mas não, mais uma vez apenas queres satisfazer o teu desejo. Houve tempos em que as carícias, os beijos, …eram suficientes para dar-me alento e continuar.
Mas agora preciso falar, não procuro só sexo. Ontem, pela primeira vez, ao sentir a tua falta de disponibilidade para mim, despedi-me desajeitadamente.
O que ficaste a pensar, não sei, nem me interessa. Sai com o meu mesmo vazio, com a mesma solidão, com a sensação de, mais uma vez, ter procurado na pessoa errada.

11 mayo 2008

DEFENSA DE LA ALEGRÍA


Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos

de las endemias y las academias
defender la alegría como un destino
del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas

de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres
defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña

de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa
defender la alegría como un derecho

defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas del azar
y también de la alegría

Mario Benedetti

25 abril 2008

17 abril 2008


Viagem à memória


Ontem lembrei-me de ti. Não me perguntes o porquê, não era um dia especial, não vi uma fotografia tua, há muito tempo que não ouço falar de ti…, talvez a chegada das tardes solarengas, a primavera, o calor, …, pode ter sido tudo isso, quem sabe? É um mistério o modo como actua a nossa memória, as vezes o que mais nos faz lembrar uma pessoa é justamente aquilo que havíamos esquecido por ser insignificante, a última reserva do passado. Seja como for, o certo é que a tua imagem surgiu na minha mente interrompendo o meu contacto natural com a realidade e deixei-me levar… Foi mais uma viagem ao meu mundo subterrâneo. Passado tanto tempo da tua ausência, surpreendi-me pela serenidade que encontrei, os significados mudaram, não havia grandes paixões, a memória tinha temperado os sentimentos. Contudo, a tua lembrança tornou-se uma vivência intensa na qual os novos significados e a distância temporal obrigaram-me a olhar para ti de uma forma diferente. Dei por mim a compreender e aceitar comportamentos e atitudes que há alguns anos atrás foram suficientes para nos afastar. Foi assim que mergulhei num mundo fantástico, em que as novas memórias e a imaginação misturaram-se para criar um sonho quase real,...mas, já não eras tu, era a viagem desde ti até outra pessoa.

13 marzo 2008

Numa consulta...
Doutora, as vezes eu sonho que vivo outras vidas, isso enche-me de esperança e diminui a angustia de viver assim. Já me imaginei a viver vidas muito diferentes, de pobres, de ricos, de trabalhadores, de viajantes, de médicos, de artistas, de cozinheiros e até de prostitutas. Todas as vidas tinham um pouco de amor, de solidão, de lágrimas, de sossego, de alegria, de inesperado,… mas, a diferença da minha, nenhuma tinha falta de esperança, nem tamanho sofrimento. Enquanto imagino, sonho e enquanto sonho acordada, vou vivendo, e o tempo vai passando como se estivesse no cinema. É o único que me resta, a minha imaginação. Sabe? As vezes, até penso que me vou curar, sei que isso seria um milagre, mas, nesses dias, até admito a possibilidade da existência de milagres. È inacreditável como a nossa fragilidade nos leva a agarrar-nos a algo que não nos esvazie a alma na totalidade. Eu sei que algumas pessoas pensam que mais valia eu morrer, que estou a sofrer demais, mas o que elas não sabem é que eu ainda não morri por dentro.

21 febrero 2008




Continuamos à espera do telefonema, parece que o tempo ficou parado, é angustiante. Há uns minutos atrás ela tentava tocar uma peça no piano, mas não conseguiu. Eu há meia hora que releio a mesma página do jornal. Hoje é um dia que vai ficar marcado nas nossas vidas, nem sei bem o que hei de fazer, falo com ela, fico calado, o que será que ela precisa? Está a sofrer, sei que está a sofrer, mas nem um lamento, mantém-se em silêncio, quase imóvel. Bem, pelo menos a minha companhia não a incomoda, podia ter regressado ao quarto onde passou a maior parte do dia e ainda não o fez. Embora também possa ter vindo simplesmente para tocar piano e é a minha presença a que não a deixa concentrar-se nas músicas, e se assim fosse? O que é que eu faço? Posso ser educado e perguntar-lhe se quer que me vá embora,… que disparate! É claro que não a vou deixar sozinha num momento destes…amo tanto esta mulher! A tenho amado em segredo todos estes anos, ela nem imagina o esforço que tenho feito para aprender a ama-la sabendo que ela nunca será minha.
Há uns anos atrás queria possui-la, desejava o seu corpo, a sua vida. Com o tempo habituei-me a vê-la nos braços do Jorge, e o meu amor foi mudando, mas não por isso ficou menos intenso. Aprendi a amar os seus gestos delicados, o passar do tempo nos seu rosto, as pequenas rugas à volta dos olhos, os seus cabelos brancos que ela tanto detesta, a sua voz, a sua gargalhada, a sua falta de jeito na cozinha, …em fim, e hoje cá estou eu, mais uma vez, a encantar-me com a sua presença.
Está linda, nunca a tinha visto com esse vestido vermelho, deve ter sido uma prenda do Jorge. Tenho que reconhecer que ele sempre soube como agrada-la. Sempre me pareceu feliz ao lado dele e, embora possa parecer ridículo ou uma desculpa para a minha falta de coragem, este facto sossegava-me e fez com que durante todos estes anos me conforma-se com ser o espectador da sua vida.

...

22 enero 2008




Os teus sonhos...


É nestas horas tristes que fico só, a pensar. E os meus pensamentos vão-se distanciando de mim, até que lá, longe da tua forma mortal, prevaleces como esses eternos viventes. Ali continuam as manifestações mais completas da tua vida, o teu pensamento e a tua arte. Contagiavas-nos com a vida que entendias como um repertório de possibilidades infinitas, magníficas e exuberantes. Fazias-nos sentir como formigas num mundo que se multiplicava aos teus olhos, ou como deuses capazes de criar mundos novos. Até a liberdade forçada de quem tem que constantemente decidir o seu destino, surgia ante ti como a maravilhosa opção de não decidir, de se abandonar ao acontecer. Aí residia a tua genialidade, a tua capacidade para criar e transformar. Mas nesta perfeição da criatividade, não sabias sonhar, os teus sonhos eram únicos, limitados, frágeis e possíveis, arrastando-te à verdadeira desilusão. Um dia ficaste a viver no teu sonho, a residência da tua solidão. A voz que ninguém ouviu. Abandonaste o mundo que te desiludia e entregaste a tua grandeza aos deuses, o trágico destino dos teus sonhos. Embora a injustiça não faça parte dos elementos da natureza, para nós não há deus que nos console. Enquanto a tua extraordinária presença sobrevive entre nós, continuaremos a viver mantendo a esperança mágica de te reencontrar.

10 enero 2008

Há dentro de nós um poço

Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos. E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens. Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós. É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte. E a nossa luta é terrível, para nos defendermos no último recesso da nossa intimidade. Porque tudo nos expulsa de lá Quando essa intimidade for preenchida pelo exterior, quando a materialidade se nos for depositando dentro, o homem definitivamente terá em nós morrido.

Vergílio Ferreira

27 diciembre 2007

Sonhos...

"Eu me conto em segredo, em verdades ocultas
que sempre soube mas que não podia
saber. E, neste jogo ardiloso, vou
descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo
que sou mas que não podia ser. Mas,
sempre fui sem poder saber!
Eu sonho!"
"Um dia sonhei que era EU e quando
acordei descobri que vivia um NÃO-EU
Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido,
Pois vivia no sonho e sonhava na vida."

Victor R. C. da Silva Dias

01 diciembre 2007

Um homem debatesse entre a vida e a morte, a família o espera, agarrada a única esperança que dá o som da respiração que se repete segundo após segundo. Porquê? E nós? Porquê não pensou em nós? Rezam a um Deus que pouco os tem ajudado, parece que se tenha ausentado, esquecido daquela família. Lá encima, essa mulher que tanto viveu, sente revoltada como os 89 anos a colam ao colchão, …mas não se conforma e grita por dentro, e cada lágrima é um pedaço da sua dor. Despede-se do sol, e todas as noites suplica à lua que vele o sono dos seus seres queridos. No mundo ao lado, ele morre. Silenciosa, persistente, implacável… a morte fica ao seu lado, embala o seu débil corpo e lembra-lhe que já faltam poucas horas para partir. Os amigos desacreditados com qualquer tipo de justiça, reclamam, protestam e choram a partida. Eu, espectadora do drama, do final amputado da história. E ela? Como foi? Há dias dava o último suspiro, a sua juventude não deu garantias, e a doença foi mais ousada do que esperava….
Agora, a vida fica dolorosa e frágil…

25 octubre 2007




Já ninguém fala de nós, ou, pelo menos não o fazem à minha frente. Evitam falar de ti como se se tratase de uma morte. Não, nem isso! Os mortos têm passado! E eles tentam fazer de conta que não existes, e quem sabe, talvez, nunca tenhas existido…é ridículo!.
Pretendem que continue a viver com um “…a vida é assim…” ou “…há que continuar…”. Tiraram-me o direito de chorar a tua perda, banalizam a tua ausência, reduzindo-a a um insignificante acidente no percurso de uma vida. São loucos?? Não tenho o direito de sofrer??, afinal , isto é fácil e eu é que decidí afundar-me nesta tristeza por excesso de estupidez??
Não é justo, por vezes tenho vergonha de estar triste e sofro, engulo e suporto em solidão, com a sensação de estar a ser um extraterrestre de sentimentos; porque não consigo “esquecer”, “sair”, “divertir-me”, “entreter-me”, …
Ficam incomodados com a minha tristeza, tentam ignora-la ou apressa-la, num esforço inútil de se verem livres do confronto com o meu sofrimento... ou com o deles?.

18 octubre 2007


Que mistério é este que nós une e afasta, como marionetas de um teatro qualquer, numa rua da nossa cidade.

Que mistério é este que olha à volta de mim e só vê a lágrima previsível numa alma cansada.

Que mistério é este silêncio, que deforma os dias em desertos vazios de areias, cores, calores,…
Que mistério é a noite imensa, imensa como o esquecimento.

Que mistério é a vida que aparece como uma ameaça tão inevitável como a morte...

Que mistério é aquilo que escrevo depois de tê-lo perdido.

Que mistério é esta humanidade de escravos de nós próprios.

Que mistério é esta tristeza, porque embora tudo mude, nada muda.

Que mistério é este que ainda nos move...

28 septiembre 2007

MARROCOS
Terra árida, cores intensas, cheiros novos, calor, suor,...um mundo à tua volta tão diferente, mágico...

24 septiembre 2007

Que te posso dizer...

Que te posso dizer que não te canse,
…que não te assuste,
Que te posso dizer….
…que me despertes pelas noites
…que me tires do sono
…que me descubras
Que te posso dizer que não conheças…
…que me dês coragem
…com licença…
Que mais te posso dizer
…que a vida me foge…
…que não me segura…
…que eu já não consigo…

08 julio 2007

A nossa realidade

Antes vivíamos espontaneamente, com a sensação de ter todo o tempo do mundo. Amanhã era apenas um prolongamento lógico do dia de hoje. Os sonhos não tinham presa. A vida semelhava-se à linha do horizonte, sem um fim aparente. Tal vez nessa ideia ilusória tenhamos perdido tempo, o necessário para concretizar os nossos sonhos, talvez tivéssemos que ter sido mais calculistas e pragmáticos. Hoje a realidade mudou e cada manhã o espelho lembra-nos o passo dos anos; o inevitável caminho para um fim para o qual não estamos preparados. Agora os sonhos ficam impacientes, o receio de perde-los, por vezes, impõem-se à própria vivência. Gastamos energia e emoções em substituir uns sonhos por outros, tentando convencer à nossa alma de que essa é uma opção igualmente satisfatória. Viver transforma-se num comboio de alta velocidade, em que o que interessa é chegar a horas às paragens mais importantes. Perdemos assim, os recantos inexplorados, os locais imaginários, a aventura de viver um rio de vida.
Mas amanhã é outro dia, e todos sorrimos, não nos conhecemos, apenas partilhamos sorrisos sociais que escondem o nosso sofrimento. Dentro deste jogo social, vamos ficando cada vez mais vazios. As vezes sentimo-nos como simples transportadores de um corpo que assumiu demasiadas responsabilidades sociais. E é um esforço levar esse corpo para mais um dia no local de trabalho, mais uns encontros sociais, mais uma mudança de clima que não estava nas previsões…
Agora estamos presos ao nosso comboio, aos nossos sonhos e aos desejos dos outros.
Mas sorrimos, que ninguém suspeite a nossa angustia de viver.

01 julio 2007

Deixa-me falar contigo

Caminho tentando não encontrar ninguém, espero que ninguém me reconheça. Hoje acordei para ficar na minha solidão, na minha medíocre existência.
Passei o dia a pensar em ti. Até ontem a vida só fazia sentido com a tua presença. Hoje, não estás, foste brutalmente arrancada da minha vida. Não me deste qualquer explicação, apenas um “já não te amo”. A verdade é que eu também não me atrevi a colocar questões, fui covarde….sei, mas não conseguia ouvir-te dizer mais nada. Após uns segundos, em que fiquei petrificado a tua frente, saí da sala como se tivesse presa por chegar a algum lado; disse um:”Ta bem…” e fui-me embora.
Agora arrependo-me, gostava de ter perguntado o porque ou, desde quando? ou, há outra pessoa?....mas fui tão covarde (..afinal tinhas razão, sou um fraco). Preciso de respostas, não aguento estas questões a repetirem-se uma e outra vez na minha cabeça, vou ficar louco!, onde estás? Que fazes? Porquê não estás aqui?...é difícil, isto é muito difícil…dava qualquer coisa por ter-te ao meu lado, pelos teus beijos, as tuas carícias, o teu cuidado comigo…
Sei que as vezes fui injusto, os meus ciúmes fizeram-te chorar em muitas ocasiões. Esse teu choro profundo, de desilusão com a vida, de solidão. Era nesses momentos em que eu sentia o quanto estava a ser estúpido; olhava para ti, para a tua tristeza sentida, genuína, e só me apetecia abraçar-te, beijar-te e pedir-te mil desculpas. Tu amavas-me, sem dúvida, com uma humildade que fazia de ti a mais bela portadora do sentimento amor.
Ontem, cometi um grande erro, eu sei, não devia ter-te batido, mas não consegui controlar-me, foi o álcool, a minha estupidez, …oh! Desculpa, por favor, desculpa…
… aqui estou eu, vagueando pela cidade, a procura de não sei o que ou, talvez, a tua procura. Porque não admiti-lo, ainda que me custe, é verdade…já entrei em todos os locais que costumas frequentar, e até naqueles que nem sei se alguma vez entraste…por favor, atende os meus telefonemas, não podes fazer-me isto, deixa-me falar contigo…

23 diciembre 2006

...confesso...

Confesso que não estava à espera…
Confesso que te ignorei, e até te trai com o meu pensamento…

Confesso que não acreditei nas tuas palavras…estranhas de tão belas…

Confesso que até consegui, por vezes, evitar ver-te…

Confesso que invadias os meus sonhos, enquanto teimava em acordar…

Confesso que estavas em cada poema que nunca chegaste a ler…
Confesso que te deixei entrar…e agora?...

…mergulho na incompetência dos carinhos, na escassez das palavras,

perco-me nos teus medos,
ignoram-me os teus silêncios…
Confesso que de tanto esforço em te negar, já não consigo esquecer-te...

15 diciembre 2006

Solidão

ENTREVISTA DO CHICO BUARQUE, ONDE ELE DEFINIU "SOLIDÃO"

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
SOLIDÃO " é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."

Um dos poemas mais belos que conheço....

Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho da manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de Janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver a minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
E penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontros
em que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
Decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
Ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
Terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido
Ruy Belo

06 diciembre 2006

O encontro

O encontro

...ela esperava...curiosa, expectante,...
...ele apareceu...desceu do taxi... um sorriso amigo...
Sentaram-se naquela mesa lá fora, na esplanada…uma vista privilegiada da cidade. O encontro ficou marcado pelo sabor daquele vinho, pelo tacto daquele ar, pela luz daquele pôr-do-sol, pelo som daqueles pássaros, e o perfume,...aquela mistura de essências. Dois desconhecidos,... utilizaram as palavras, a vista, o olfato e as experiências passadas para despir a alma.
....a conversa, o olhar, o riso, o sorriso...os silêncios...
...e ele pegou na sua mão, e acariciou-a...e ela deixou-se levar por aquela caricia,...e ele leu-lhe poesia...e ela encantou-se com a cadência da sua voz...
A noite tornou-se uma fonte de magia...e assim...magicamente surgiu o desejo e a vontade de interromper o passar do tempo....com amor, sem amor, com amizade, sem amizade, com ou sem razão,...decidiram nunca ter que lamentar não ter aproveitado… aquele encontro...

31 marzo 2005

iBASTA YA!


Sólo dos palabras, tan sólo tres sílabas, para enfrentarte a un reto, quizás el más difícil, uno de los más duros de tu vida. Dos sencillas palabras de uso cotidiano, pero tan extremamente rotundas que pronunciarlas juntas puede requerir acumular angustia, miedo y coraje durante años. Cuando al fin salen, ya no sólo de tu boca, ni de tu garganta, sino que todo tu ser las empuja fuera de ti, suenan con tanta firmeza que él que las escucha sabe que no hay marcha atrás; alguien se ha decidido a luchar, a defender con uñas y dientes aquello que sabe, le pertenece y harán falta algo más que Dios y ayuda para frenarlo en su decisión…
El que las pronuncia, en ese momento crece, siente la libertad de haber sido él mismo, de haber explotado de rabia, de odio…se ha cumplido su sueño; tanto tiempo esperando un héroe, cuando estaba en su interior, en una jaula que al fin se rompió…
…no lo dudes, elige el momento y grita: ¡BASTA YA!

06 enero 2005

GUERRA

Trueno al nacer,
duro, frío, miedo
al trueno,
al crecer.
Todos corren por el trueno,
…muy niño para entender,
cielo gris, triste, cruel, no sé el porqué,
…otra vez el fuerte trueno,
mamá y yo...¡correr!…
..estoy solo y en el suelo
mi madre: “¡corre, yo me muero!”